Rainhas do blues

  • 19 de novembro de 2020
  • MDBF

Discutimos muito o racismo nesse espaço; não há como fugir desse debate já que foi justamente o racismo que transformou pessoas negras em escravas e daí nasceu nosso amado Blues.

Mas não é só de racismo que vivem nossa opressões diárias. O machismo também é marca registrada em nosso mundo e, mesmo com alguns avanços dos movimentos de mulheres, não parece que vai desaparecer tão cedo.

É justamente no aspecto machista que nomes femininos são apagados da história. Mulheres que estavam à frente do seu tempo ou que atuavam lado a lado com homens que se tornaram notáveis enquanto elas tiveram seus nomes esquecidos.

Com o Blues não é diferente. Ao se pensar nos antigos é muito fácil lembrar de uma dúzia de homens que marcaram época e revolucionaram o ritmo, mas… e as mulheres?

Sim, mulheres faziam blues. Rosetta Tharpe, por exemplo, veio ao mundo no ano de 1915 e se tornou não apenas uma cantora, mas uma notável guitarrista, cujo jeito de fazer música inspirou ninguém menos que BB King.

Mas não foi apenas esse King que morreu de amores por Rosetta; reza a lenda que existia um garoto que não perdia por nada os programas de rádio que Rosetta apresentava. De tão fascinado pelo som da cantora, o garoto começou a sonhar com os palcos. O nome dele era Elvis. Por sua influência sobre o rei do rock, Rosetta é considerada por muitos como a criadora do ritmo.

Se já não bastasse BB King e Elvis Presley, Rosetta ainda é admirada por outros músicos importantíssimos, que admitem abertamente tê-la como inspiração. Estamos falando do saudoso Chuck Berry e de Bob Dylan!

Além de Rosetta, não podemos deixar de mencionar Mamie Smith. A cantora, nascida em 1883, quebrou todos os paradigmas ao se tornar a primeira mulher a gravar um vocal de blues.

Seu álbum de estreia foi gravado em 1920 com composições de Perry Bradford e, para a surpresa de todos – principalmente da gravadora – foi um sucesso de vendas avassalador.

Tentando entender o fenômeno Mamie, a gravadora acabou por descobrir que a maior parte dos discos foi vendida para a população afro-americana, um público até então totalmente negligenciado. O sucesso de Mamie não revolucionou apenas a abertura do blues para mulheres, mas também toda a relação que o mercado de consumo tinha com a população negra.

Outros cantores já tinham alcançado o estrelato antes dela, mas estes contavam com um público branco muito expressivo, Mamie foi a primeira a atingir essa parcela até então negligenciada. A partir do seu sucesso é que as gravadoras começaram a buscar outras cantoras, inclusive de outros ritmos, criando finalmente um espaço para mulheres na indústria da música.

Texto de Maya Falks

Fonte: Geledés

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