MDBF É MEMÓRIA

  • 10 de dezembro de 2023
  • Marina

Ok, terminou. Mais ou menos, sejamos honestos. Terminou porque eram três dias e eles passaram. Mas o Blues nasceu das adversidades, venceu outras, quebrou barreiras e estamos nós, em 2023, depois do mundo virar de cabeça pra baixo com uma pandemia – mais uma adversidade, e das grandes – curtindo um Blues.

É ou não é música de resistência? É ou não é celebração da vida? A tradição que nasceu como grito de liberdade nos campos de algodão no sul dos Estados Unidos segue ecoando com cada vez mais força porque atinge até quem não faz a mais vaga ideia de como essa história começou.

Pois começou na dor, mas músicos brilhantes, desde os que fizeram a música nascer até os que estiveram nos palcos do MDBF 2023, transformaram em alegria, em união, em fraternidade entre povos e gerações. E não minto quando falo em gerações; no MDBF estiveram desde bebês até pessoas de idade bem avançada, passando por todas as outras fases da vida.

Falar do magnetismo da Claudette King transformando a casinha (palco “Club Ebony”) em mansão, do Fernando Noronha & Black Soul levando a galera ao delírio no palco central, do Oly Jr. como banda de um homem só no High Chaparral, do Ian Siegal & Alamo Leal reunindo o povo na frente de um trio elétrico do “Big Red”, ou aquele solo de guitarra absurdo do Guto Konrad na casinha, e de todos os demais espetáculos que abrilhantaram o evento seria chover no molhado; a qualidade de cada um é o próprio espetáculo, mas isso você pode ver nas redes, por exemplo.

O que não pode ser replicada é a experiência. Então você está indo em direção à casinha e passa por dentro de um bar em algum ponto da década de 1940 com um músico tocando uma lendária Cigar Box Guitar. Você não está em uma réplica do Parque da Festa da Uva, você está vivendo a História. Você é parte da História. Renato Velho vence a barreira do tempo e do espaço para que você saia de lá com a certeza de que viajou no tempo.

O Mississippi Delta Blues Festival não é um grande evento que gira em torno do Blues, ele é, como dizem agora, um metaverso. O tema está lá e você vive ele em situações, épocas e experiências diferentes. Não existe tédio em um evento que tem algo novo acontecendo a cada instante.

É por isso que o MDBF é memória: ele resgata a memória e cria novas. Ele não terminou ontem porque memória não termina. Os músicos voltarão para suas casas, os palcos serão desmontados, mas a história… essa continua. O que cada um viveu nesses 3 dias continua, porque reverbera, marca, transforma. Você não sai do MDBF do mesmo jeito que entrou.

Em 2024, uma nova experiência vai começar.

Fotos: Dani Xu

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